Tenho o tempo fora de mim. Sou toda espaço dentro, até as bordas da pele, a ponta dos fios, até as beiras do outro. Sou espaço no corpo desde o leito onde dois outros rios se fundiram passageiramente e se fingiram eternos. Não tenho o tempo em mim. Careço de música pautada, toda Ela é cantada apenas pelo que me toca dentro. Pelo que alcança meu espaço íntimo. E desafia as fronteiras de dentro-fora. Quando "nascem" o tempo, aprendo o lento e o atraso. Sou acalanto de mundo ao tempo mudo e aflito da seta que corre no sentido alunar do espaço. Insisto no embalo da criança insone. Dizem que quando "nasceram" a criatura, cravaram suas pálpebras nas sobrancelhas e proibiram-na de ninar. Para que não sonhasse algum dia em ser outra coisa. Então inventaram antes e depois e deram nome aos movimentos naturais do espaço. Quando o que é espaço dentro passa a dançar fora, nasce a flor, corola, primavera. Quando o contrário, é a flor no dentro, semente, diz-se que outona. Achei uma violência menor do que a seta. E até uma espécie de salvação. Então passei a me dedicar a isto, aos espaços no tempo.