respira.
Assume o leme dentro do remo solitário um cardume de carpas anciãs. 
Reinam aquáticas feito um terceiro olho na cabeça do rio e eu não temo a direção desta canoa, pois estou com elas. 
Avoa rasante um mistério fosforescente que trisca o bico num espelho d'água em silêncio para saciar a sede dourada da voz crescida de bicho-fêmea, desloca um murmúrio-acorde-córrego em mim que ressoa nos quatro ventos. 
Há reflexos de luz e folhagens de sombra nesse remanso de pouso-pássaro e canto-pluma. Pequenas fadas e duendes brincam cada um com um espelhinho na mão, invisíveis para outros bichos da terra, mas não estranhos para as entranhas da selva. A onça ri graciosamente com a brincadeira. Borboletas cintilam trêmulas com a vibração da força, mas depois relaxam. Faz sol de canudinho e garoa leve. A toca da coruja está levitando e ela provavelmente está dormindo. 
Enquanto isso, lá fora o tempo mastiga cascas cadentes de árvore e escamas encolhidas deixadas no leito perene e orbital da vida, e a cobra de água doce troca de pele até suar salgado. 
No mar, ondas de ternura. Onde já não dá pé pra ilusão alguma, também não há feridas.